Hoje eu quero contar uma lembrança minha. A Concha Gigante aos olhos de uma criança curiosa. Eu olhava aquela concha gigante e posso dizer que sentia até um certo medo. Aquela fenda profunda e escura... será que eu podia colocar a mão alí? Será que eu podia tocar? Ela era um mistério na minha cabeça. Vários outros objetos também eram-me estranhos ou curiosos e despertavam reações - como evitar passar perto daquele objeto pra não precisar olhar pra ele ou pegar ele escondida e ver os detalhes.
Essa é uma das relações que eu tenho com a Concha Gigante. Pode ser que eu tivesse estado em contato com motivos marítimos desde sempre e eu só venha a perceber isso bem depois - hoje como mulher adulta. Sei que se eu fizer um esforço, reconheço a presença deles nos espaços das matriarcas. Espelhos, pentes, e muitas conchas. Nunca ninguém me explicou os significados, motivos ou intenções desses objetos. As imagens que eu via eram tabus.
A Mãe D´Água estava presente desde muito tempo e ela continua. Mais uma vez, marcas do feminino. Fenda escura, ameaçada e ameaçadora. Fenda escura, será que eu posso colocar a mão ali?
E se a Concha Gigante fosse um portal?

Rio, 29.05.21
Entre as paredes também corre água. Entre as paredes correm as intensões e o que a maioria dos olhos humanos não podem ver!
**Pausa** pra cena que imaginei agora: eu vejo um copo cheio de ar e matéria; e imagino como seria receber a água no topo da minha cabeça e senti-la escorrer em mim. Desceria até os meus olhos e eu poderia fingir que estou chorando. Seria como uma queda de cachoeira, seria como um banho. Um banho onde teria que equilibrar muito bem os elementos que guardo com carinho – elementos roubados da natureza pela desculpa de serem protetores ou só esteticamente bonitos. Às vezes eu levo algumas conchas pro mar e devolvo – gesto simbólico acompanhado de motivos pessoais, espirituais ou simples ato. Então eu devolvo pra natureza (mas só algumas).

Rio, 02.06.21
O meu corpo junto aos motivos religiosos.
Corredor.
Hoje ao falar com a minha avó no telefone busquei informações sobre o Terceiro Olho. Ela sempre falou sobre a importância de enxergar com o Terceiro Olho e então me perguntei, será que eu sei o que é ele? – e eu toco com meus dedos a posição central que o Terceiro Olho ocupa, entre os meus olhos.
Na ligação ela conta que através dele você enxerga diferente, é a visão da vida.
Depois de entender o que significava para a minha avó, recorro às explicações que o mundo e os seres humanos dão pras coisas (Google). Gosto do que leio e já penso em mergulhar nele. Afinal, combina bem com os assuntos que têm me rodeado e faz sentido eu me aprofundar – no Terceiro Olho.
Algumas coisas que eu li, em [ ] :
[ O terceiro olho, também conhecido como Ajna, o sexto chakra, situa-se no ponto entre as sobrancelhas. Conhecido como "terceiro olho" na tradição hinduísta, está ligado à capacidade intuitiva e à percepção sutil. Quando bem desenvolvido, pode indicar um sensitivo de alto grau. ]
[ A glândula pineal está ligada, culturalmente, ao que conhecemos como “terceiro olho”. Esse olho seria uma estrutura responsável pela ligação dos seres humanos com o mundo espiritual, também chamado de “olho da consciência”. ]
[ Segundo a Doutrina Espírita de Allan Kardec, a glândula pineal é responsável pela existência da vida no plano espiritual e no plano mental, sendo fundamental para o corpo etéreo. É ela que comanda as emoções do ser, tendo acesso a todo o sistema endócrino e reverberando, principalmente, nas práticas sexuais. ]
O que eu mais gosto nesse momento é enxergar a presença do Terceiro Olho no conjunto dessas imagens. Aliás, eu enxergo mais do que a presença dele. Sinto como os motivos religiosos me contornam. Os motivos que dou para eles me protegem e também tocam em lugares muito além das histórias que o mundo dá para os mesmos.
Aprendi com a minha avó e as matriarcas que as ligações feitas com o mundo espiritual podem ser múltiplas. Sinto que a espiritualidade toca em elementos Tantos! Aprecio o gosto de sentir o que creio ser sincero, incerto, o campo das coisas e não coisas, o tangível e o intangível.
Rio, 20.07.21
o clima quente e úmido
e suas frestas deixam escapar o céu. 


ambiente silencioso

deixa a água escorrer pelas paredes
e quantas almas já estiveram ali.

estático-abandonado
ou só descansando?
Rio, 26.05.21
Câmera: Lucas Vieira

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